Guerras Inexistentes e Conflitos Alternativos
Embora o conto “O Colosso de Bering” (2006), de Carlos Orsi Martinho, comece no futuro, onde os planetas do Sistema Solar já foram colonizados,[1] boa parte da ação se desenrola no ano 1908 de uma linha alternativa que divergiu da nossa linha histórica em 1884, quando, durante a Conferência do Meridiano Internacional em Washington, a França logra impedir a escolha de Greenwich como meridiano de origem. Em prol da neutralidade, define-se Bering como o meridiano de longitude zero. De algum modo, essa iniciativa alterou outros parâmetros do sistema internacional de medidas, a ponto de a hora agora possuir cem minutos e cada minuto cem segundos (hora cosmopolita), o ano contém nove meses de quarenta dias, com cinco dias adicionais de feriados (seis nos anos bissextos), e assim por diante.
A narrativa inicia com o narrador reencontrando o amigo Tomio Arakaki, um físico brasileiro de ascendência nipônica que havia morrido dez anos atrás em um acidente. Tomio revela que após o acidente, despertara à noite mergulhado no mar gélido. Pouco mais tarde é resgatado por um navio que conduz refugiados russos rumo ao Estreito de Bering, onde se situa o tal colosso do título, uma estátua descomunal erigida num território neutro administrado pelo Bureau da Longitude de Paris-Rio de Janeiro. O físico descobre que o Império Russo está em guerra contra o Império Nipônico, porque os japoneses ainda insistem em manter o meridiano de Quioto como origem das longitudes.
Tomado por espião japonês, o físico é interrogado e torturado por agentes do Bureau. Enfim, o prisioneiro começa a desconfiar que o Bureau é um organismo internacional bem mais poderoso do que parece. Quando o Japão capitula, desistindo do meridiano de Quioto em favor de Bering, Tomio começa a ser mais bem tratado. No entanto, é atraído para uma armadilha preparada por um terrorista infiltrado no Colosso. Ao perecer na explosão, desperta em Buenos Aires da nossa linha histórica meros dez anos depois da época de sua primeira morte.
Narrativa original, enxuta e bem escrita. No entanto, os eventos se dão de forma algo gratuita. Parece falar certa coerência ou sentido. AH-Lite? Pode ser. De qualquer modo, tremendo samba do relógio doido.
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