Em sua obra essencial, Trillion Year Spree (1986), o autor e estudioso de ficção científica Brian Aldiss afirma que a FC se tornou um gênero literário muito mais popular após a estreia do blockbuster cinematográfico de George Lucas, Guerra nas Estrelas (1977), filme que, segundo ele, mudou inteiramente a ordem de grandeza das vendas de livros de ficção científica mundo afora.
Ao contrário da ficção científica, gênero-mãe que lhe deu origem, a história alternativa encontra-se até os dias de hoje, praticamente restrita à expressão literária. Quando comparado com o cenário reinante na ficção científica, são relativamente poucos os filmes, as séries, os jogos e os quadrinhos de história alternativa. Este capítulo tratará de uns poucos exemplos de narrativas do subgênero presentes nas mídias extraliterárias.
Filmes
Não existem muitos filmes com cenários de história alternativa. Há, no entanto, aqueles que, conquanto não constituam espécimes legítimos da expressão cinematográfica do subgênero, exibem certos elementos de história alternativa.
Uma película que se enquadra na definição de ficção científica com elementos de história alternativa é o curta-metragem “Barbosa” (1988), baseado em um conto de Paulo Perdigão, com roteiro de Giba Assis Brasil, Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado. Com apenas treze minutos de duração, o curta é o drama de um torcedor, interpretado por Antônio Fagundes, que empreende uma viagem retrotemporal, aterrissando no Maracanã em plena final da Copa de 1950. Ele pretende alertar Barbosa, o goleiro brasileiro, dos detalhes exatos do chute do atacante uruguaio que marcaria o gol da vitória da Celeste Olímpica. Contudo, justo quando o viajante temporal chama Barbosa, o arqueiro se distrai e deixa de prestar atenção ao ataque adversário e… a seleção uruguaia marca o segundo gol! Um belo exemplo de paradoxo temporal positivo: a intervenção no passado se faz necessária para criar o próprio passado e o presente conhecidos pelo protagonista. Não chega a constituir história alternativa na acepção lata do termo, pois não há ponto de divergência a partir do qual a história se desvia do curso conhecido. Mas que sabe a história alternativa, ah, isto sabe.
Outro exemplo dos tempos de antanho é o telefilme documentário inglês If Britain Had Fallen, apresentado pela BBC-TV em 1972. O ponto de divergência se dá em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha obtém êxito na tentativa de desembarque nas Ilhas Britânicas, um plano ousado que o Alto-Comando Nazista de nossa linha temporal também acalentava na época, tendo batizado-o de “Operação Leão-Marinho”. Após a descrição do cenário dessa operação de desembarque hipotética, o filme apresenta algumas especulações sobre os rumos que a ocupação militar nazista teria tomado, discutindo se os ingleses teriam ou não conseguido repelir os invasores.
Um exemplo mais acessível do que esse documentário inglês obscuro realizado há mais de quatro décadas é o filme A Última Tentação de Cristo (1988), dirigido por Martin Scorsese e protagonizado Willem Dafoe. De fato, a história da vida e da obra de Jesus Cristo não é alternativa per si. Ocorre, no entanto, que lá para o fim do filme, quando Jesus já está pregado na cruz, ele sofre justamente a última tentação do título, sob a forma de uma visão onde lhe é mostrado como será/teria sido sua vida, se ele renegar/tivesse renegado sua missão na Terra em troca da sobrevivência e de uma velhice tranquila. Esses breves minutos de filme mostram o que teria acontecido com Jesus, seus descendentes diretos, amigos, seguidores e com o próprio cristianismo, caso ele tivesse decidido abandonar sua fé. Admitindo-se a realidade histórica de Jesus (assunto que não se pretende abordar no espaço exíguo deste capítulo), é possível considerar A Última Tentação de Cristo senão um filme de história alternativa, pelo menos um com elementos do subgênero.
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